16 de agosto e as crises: política e econômica
Desde a minha última postagem, julho, 17, até esta data muita água correu nesse moinho da realidade brasileira. E nisso, algumas modificações....
Todos
conhecem o bla bla bla para crise / oportunidades e o contexto econômico atual,
agosto 2015. O fato inédito que vemos neste momento da economia brasileira desde
a Constituição 88 é a dimensão da crise política. Por mais que a mídia
superdimensione a crise econômica, a crise política predominaria inconteste e
contamina e ajuda expandir aquela. Quem tem um pouco mais de idade, como eu, sabe
o que é crise econômica, pois vivenciou os trágicos governos do “dedo duro
milico” João Figueiredo, Sarney e Collor. A crise política é exacerbada no Congresso uma vez que opera contra os interesses do Estado, do povo brasileiro, para
preservar os “dedos” daqueles que podem perdê-los devido a operação Lava Jato. E
a oposição enxergaria oportunidade para puxar o tapete de quem eleita e assim
alcançar fácil o poder que não conseguiu via voto. Os erros do PT no primeiro
mandato Dilma paralisam a economia no início do segundo, porém nada comparado
aos “anos de chumbo” e os de Sarney e Collor. O PT, como previsto, navegou fácil nas
commodities do primeiro e segundo mandato Lula e proporcionou apenas incremento
da população consumista que não se sustenta numa retração econômica; e, em paralelo,
hospedou, tolerou e até se locupletou com a corrupção. Vai pagar preço caro
pelo desmando e por rasgar compromissos valiosos à legenda antes de alcançar o
poder.
Há pouco menos de uma semana da manifestação marcada para o dia 16 de agosto, 2015, com
os motes contra a corrupção, PT e impeachment Dilma, acusei dezenas de mensagens
convocatórias nas mídias eletrônicas: e-mails, SMS, "Whatsapp", "facebook", etc... É uma profusão de mensagens de teores
cada vez mais contundentes e de forte inspiração fascista. Tem gente saudosa da
ditadura militar e que tem no deputado Jair Bolsanaro modelo de político. Tive diferenças em relação ao PT no passado e rompi em 2003, porém estas não seriam as mesmas da intensa
campanha promovida por grupos como “Venha
pra Rua”, “Revoltados on Line”, PSDB, Blogs e outros. O PT é importante para a democracia brasileira e tem história. Seria
interessante estar nessa manifestação para dar uma resposta contra a corrupção,
mas sem apoiar o impeachment Dilma e atuar como sugere o poeta Eduardo Alves da Costa no belo poema "No Caminho, com Maiakóvski" (*), parte deste reproduzida abaixo. E protestar contra o PT, mas rejeitando a campanha fascista.
Porém essa campanha toma dimensões perigosas, inclusive fisicamente, para quem como eu
desejaria apenas marcar posição pela construção de um Brasil republicano. E nesse
ambiente que as mensagens eletrônicas denunciam seria quase suicídio!
Enfim, desisti de estar presente nessa manifestação. Vou
protestar de outras formas, pois, parodiando Milton Nascimento, “qualquer
maneira de protestar vale a pena”!
(*) Tu
sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Poema publicado no livro 'Os Cem Melhores Poetas Brasileiros
do Século', organizado por José Nêumanne Pinto, pag. 218.
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