Pedaladas na Toscana, Itália
Toscana é a região central da Itália com quase 4 milhões de habitantes e 23000 km2, aproximadamente, de área. Tem Florença como capital e as principais cidades como Arezzo, Siena, Pisa, Lucca e Massa-Carrara. O relevo é predominantemente de morros e colinas (67%), formações rochosas (25%) e planície o restante, ou seja, pouco menos de 9%. O ponto mais alto é o Monte Pisanino (1946 m). O principal rio é o Arno que atravessa as cidades Florença e Pisa.
Toscana é o berço do renascimento, luz iluminando um presente medieval que durou mil anos. A região ainda guarda vestígios da civilização etrusca, renovação romana com Carlos Magno e, posteriormente, a explosão de luz na cultura, em geral, na toscana ocorre a partir dos séculos XXII com máxima intensidade nos séculos XV e XVI durante o consulado dos Médicis. A terra Toscana foi palco de um dos períodos mais luminosos e criativos da história da humanidade que estão registrados na pintura, escritos, escultura e arquitetura.
Como bem observado por “Engels”, “em momentos de crise a humanidade produz gênios”, o Renascimento produziu Dante Alighieri – “A Divina Comedia” – Nicolau Maquiavel – “O Príncipe”, “A Mandrágora” – Giovanni Boccacio – “O Decameron” – Ariosto – “Orlando Furioso” – Miguel de Cervantes – “D. Quixote de La Mancha” – Luís de Camões – “Os Lusíadas – William Shakespeare – “Romeu e Julieta”, “Júlio César”, “Hamlet”, “Otelo”. O Renascimento, sem dúvida precisava de gênios e ainda gerou Erasmo de Roterdã – “O Elogio da Loucura” – Etienne de La Boetie – “Discurso da Servidão Voluntária” – Thomas Morus – “Utopia”, entre pintores e escultores como Rafael, Giotto, Miguelangelo, Murilo, El Greco, e o gênio universal Leonardo da Vinci sendo principal estrela desta constelação. A frase de William Shakespeare em Hamlet exprime o “novo homem” (antroprocentrismo em oposição ao teocentrismo presente por um milênio na Europa Ocidental) que surgia com o Renascimento: “Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio; tão vário na capacidade; em forma e movimento, tão preciso e admirável, na ação é como um anjo; no entendimento é como um Deus; a beleza do mundo, o exemplo dos animais”.
Enfim, vamos ao que interessa que seria relatar essa viagem “in bici” (em bicicleta, italiano). O interesse na viagem foi harmonizar a história de região registrada em monumentos, “fortezzas”, igrejas, casas, ruas, museus, paisagens deslumbrantes e brilhantes com o prazer das pedaladas “in bici”. O primeiro passo foi selecionar a região da Toscana onde esse passeio seria realizado. O elemento importante na seleção da rota para as pedaladas foi o vinho. A região de Siena é conhecida pela produção dos vinhos Chiant, Brunello de Montalcino, Rosso de Montalcino e com esta informação se traçou o roteiro: Siena, Montalcino, Montepulciano. Arezzo, cidade Toscana, entraria nesse roteiro, porém o interesse em conhecer a cidade medieval de Assisi influenciou o roteiro que terminou com a inclusão da cidade “Castiglione Del Lago” localizada no lago Trasimeno que fechou o rotero dessas pedaladas. Uma vez concluído o roteiro se realizou uma busca na internet para localizar uma loja onde alugar as bicicletas. A empresa “Gippo”, localizada na cidade “Colle Val D´Elsa”, a 27 km de Siena, foi selecionada para o aluguel das duas bicicletas contemplando: “kit reparo, duas câmeras, “cascos” (capacetes), bolsas dianteiras e traseiras, farol dianteiro e lanterna traseira e seguro contra roubo e acidentes. Os hotéis das cidades desse roteiro foram reservados dois dias antes quando estava na Itália, Milano, Baggio, e o valor das diárias foram de E$50 a E$75, com farto café da manhã composto de sucos, cereais (3), iogurtes, café, chá, frutas, pães, queijo, presunto, etc...
E assim, no dia 03 de outubro de 2011, pegamos um carro na cidade de Milano, Lombardia, norte da Itália, e rodamos 280 km, passando por Firenze, capital da Toscana, até a cidade da loja Gippo. Chegamos na loja Gippo, em torno de 14H30´ que estava fechada para o almoço entre 12H30´e 15H30´ e, enquanto aguardávamos a abertura da loja, aproveitamos para fazer também o nosso almoço estendendo um pano no gramado do estacionamento da loja onde abrimos uma garrafa de vinho “Sardo” e comemos nossos lanches à base de salmão defumado, queijo e salada. Na Gippo fomos gentilmente atendidos por Adriano e Laura que selecionaram e prepararam as duas bicicletas conforme nossos interesses: bom cambio, 21 velocidades (queríamos 27, mas não disponível), suportes para alforjes, cestas dianteiras e traseiras, etc...O valor do aluguel de cada bicicleta é de E$80 por semana. A loja Gippo vende e aluga bicicletas e toda sorte de acessórios, porém os preços não são nada atrativos. Portanto, dessa loja ficamos apenas com as garrafas de água e duas campainhas metálicas.
Enquanto Gippo preparava as bicicletas – revisão completa – e adaptação de acessórios, preparamos o carro para permanecer uma semana estacionado nesta loja. Uma vez prontas as bicicletas fizemos fotos no local e começamos a nossa aventura pegando a estrada rumo a Siena. A Gippo está localizada numa estrada vicinal da cidade Colle Val D´Elsa e logo depois da partida encontramos a primeira “rotonda” (em italiano, ou “rotunda”, em português de Portugal, ou rotatória para o português do Brasil) rumo a Siena com uma profusão de placas indicativas, mas uma delas localizada acima de todas despertou a nossa atenção e estaria sempre presente em todas as placas de importantes cruzamentos, ou “rotundas”, qual seja: “Tutte le Direzioni” (todas as direções). A direção principal que norteia todos os sentidos é Roma, daí talvez também a famosa expressão “todos os caminhos levam a Roma”.
Alcançamos Siena em torno de 19H00 e rapidamente chegamos no hotel localizado logo à entrada desta cidade e numa via que leva diretamente a uma das denominadas “porta” de acesso a Siena medieval. Uma vez instalados, bicicletas guardadas e banho tomado, saímos rumo ao Centro de Siena pela porta “Camolia” e curtir as labirínticas vias até a “Piazza” central onde todos se concentram para se deleitar em estado de quase incredibilidade com a bela vista das ousadas e criativas construções medievais dispostas em círculo. O impacto da beleza da cidade inebriou nossa mente que esquecemos a hora e perdemos o senso de direção, pois no retorno ao hotel pegamos uma direção que nos levou a porta chamada “Romana” que está localizada no sul enquanto deveríamos ter caminhado rumo ao norte da cidade. No dia seguinte, acordamos cedo, tomamos um substancioso café da manhã e pedalamos na direção da porta “Camolia” e depois “Romana”, tangenciando os muros medievais rumo a cidade de Montalcino.
A distancia de 45 km rumo a Montalcino foi percorrida em, aproximadamente, quatro (4) horas e meia, mas poderia ter sido percorrida em menos tempo não fosse o encantamento que a estrada mostrava a cada kilometro percorrido que exigia o registro pela câmera fotográfica. Sem contar a insegurança em relação ao rumo correto necessitar de confirmação com os habitantes locais a cada pequeno lugarejo alcançado. E os habitantes locais, para a nossa surpresa, se mostraram atenciosos, gentis, proativos, em prestar a correta informação que nessa rota para Montalcino se mostrou fácil confirmando o que todos diziam “siempre dreito”(sempre reto). Chamou nossa atenção a aproximação com Montalcino que faz uma grande curva em subida de quase 8 km com pequenas rampas e curvas e a cada curva a ilusão de ótica sugeria que a subida acabaria e começaria um plano, ou mesmo leve descida, mas isto nunca ocorria até se alcançar a cidade localizada a quase 700 m de altura. Quando chegamos na entrada da cidade, área não medieval, ainda não o topo do monte, encontramos um posto de gasolina e fizemos uma exceção para uma coca-cola. Ao entrar na área de café vimos as bandeiras do Brasil e Itália suspensas, grandes, lado a lado e isto nos intrigou para procurar o gerente e indagar o por que disto. Qual a nossa surpresa em saber que o dono é italiano nato de Montalcino, mas há cinco anos adotou o Brasil a tal ponto de comprar uma casa na ilha de Itaparica, Bahia, para morar a partir de novembro de 2011. A conversa rolou fácil e quando partimos de Montalcino fomos apresentados à esposa, tomamos café, fizemos fotos e fomos oficialmente convidados para visitá-los em Itaparica, Ba.
Em Montalcino nos hospedamos no hotel localizado em frente à principal atração medieval que é a “Fortezza de Montalcino”. O hotel também está ao lado de loja de vinho onde se serve para degustação o famoso “Brunello de Montalcino”. Mas seguindo os conselhos de meu co-cunhado italiano, Milano, pedimos sempre “vinho da casa” nos restaurantes ao invés de “Brunello”, pois na Itália se beberia mais Montaltino do que se produz e no “vinho da casa” em Montalcino a probabilidade de se beber o verdadeiro Brunello é muito grande. Para a nossa decepção essa observação de cunhado se mostrou verdadeira, confirmando o “vinho da casa” com melhor sabor que o Brunello oferecido para degustação.
A cidade de Montalcino é pequena com as construções medievais no topo e uma vista privilegiada dos campos toscanos. Algumas vielas estreitas em desníveis acentuados são percorridas se apoiando em corrimões de aço e nos iludem quanto ao desgaste físico talvez por conta do prazer das belas visões dos campos toscanos e das estéticas arrojadas das construções com beleza até em pequenos detalhes como uma maçaneta de porta, um vidro desenhado, uma escultura escapando das paredes, ou um piso desenhado. A máquina fotográfica não conseguiria captar toda a beleza dessa insólita cidade que tanta riqueza produziu há 500 anos atrás.
Depois de Montalcino a próxima cidade do nosso roteiro seria Montepulciano e, como não seria diferente também com o nome sugerindo localização num “monte”. Assim, pela manhã bem cedo nos preparamos com bastante protetor solar e começamos as pedaladas de 40 km rumo a Montepulciano em um dia brilhante com uma pintura de montes, planos, lavouras de uvas, peras, maças, milho e feno de cores entre o verde e amarelo que torna irresistível a comparação destas imagens a um quadro do pintor Van Gogh. Ao longo da estrada parávamos para fazer fotos dos belos locais de produção de vinho abertos aos visitantes para degustação, além de vários locais para alugar (pelo menos 1 semana) chamados de “agriturismo”. Não tinhamos pressa em alcançar Montepulciano, pois a visão que a estrada proporciona é de beleza intensa que invariavelmente despertava a vontade de pedalar cantando. Uma sensação de liberdade e beleza de alivio para a alma toma conta enquanto as pedaladas se desenvolvem.
Caberia importante comentário sobre as pedaladas nessas estradas vicinais toscanas de forte emoção para aspectos relativo a segurança, senso lato. Em nenhum momento nos ocorreu durante a preparação desse projeto a possibilidade de um assalto seja das bicicletas, de valores e, ou, objetos eletrônicos que carregamos. Exigimos seguro da loja de aluguel de bicicletas para o caso de acidentes, ou roubo destas. Surpreendeu-nos pedalar numa estrada vicinal onde os veículos – automóveis e caminhões – respeitam a bicicleta e não hesitam em quase parar para ultrapassar uma bicicleta. E ultrapassar sempre respeitando a distancia mínima de 1,5 m de distancia da bicicleta. Ainda assim procuramos pedalar sempre junto da faixa branca pintada no lado direito da pista da rodovia que não tem acostamento, porém vimos vários ciclistas pedalando no meio da faixa direita sem quaisquer preocupações com carros. Em determinado momento, quando minha consorte pedalava à minha frente (100 m) passou por mim três carros em velocidade superior ao permitido nessas estradas (oscila de 50 a 70 km, dependendo do local) que precisaram parar juntos e ultrapassar esta que pedalava tranquilamente no meio da rodovia. Todos pararam e não protestaram com buzina. Claro que ocorrem acidentes e, geralmente, segundo informaram alguns ciclistas, isto estaria associado a direção+alcool, ou estrangeiros, principalmente do leste europeu que desconhecem normas de respeito a ciclistas e pedestres, ou pouca disposição em atender estas, além do abuso do alcool. Portanto, pedalar sempre atento com as normas de segurança e de olho nos carros à frente e atrás.
Montepulciano, mais uma profusão de construções medievais em monte com vista privilegiada dos campos toscanos. O hotel reservado no centro histórico da cidade está em prédio medieval adaptado com quarto confortável, bom banheiro com ducha, ar condicionado e uma bela e grande estampa de quadro do pintor Gustav Klint à cabeceira. Aproveitamos Montepulciano ao máximo explorando todos os cantos possíveis dessa bela cidade. Não seria diferente e experimentamos o vinho dessa cidade, porém desta vez compramos uma garrafa em um pequeno supermercado localizado em área fora dos muros medievais. À noite retornamos à praça central para tomar vinho e comer queijos e pães com os reflexos de luz de uma bela lua.
No dia seguinte, depois de um generoso café da manhã em agradável e arrojada arquitetura do local, seguimos rumo a Castiglione Del Lago, situada a 45 km desta cidade. Novamente fomos presenteados por um sol intenso que fez brotar toda a beleza da paisagem rumo a fronteira da Toscana, pois a cidade de Castiglione Del Lago e Assisi estão na região da Umbria. Repetiu-se tudo novamente, ou seja, a estrada com subidas e descidas não intensas, planos, e as diversidades agrícolas típicas da toscana. Nessa pedalada ficamos tão encantados com as belas visões da estrada que paramos para um piquenique e tomamos um bom vinho Montepulciano com queijo pecorino, pão e salada. Uau, que delícia!
Em Castiglione Del Lago tínhamos reserva de hotel localizado no centro histórico da cidade que também está em um monte. E pedalamos até o topo do monte para alcançar o hotel com repetição das emoções para a visão do campo agora da Umbria acrescido de um imenso lago chamado Trisemano. Nessa subida encontramos um grupo de ciclistas da Áustria que nos cumprimentaram na subida até o centro histórico e quando alcançamos o local trocamos informações de nossas viagens em inglês. Assim como nós, os austríacos estavam encantados com as pedaladas na Toscana.
Castiglione Del Lago tem a sua “fortezza” que estava fechado para visitação e conta com apenas uma rua principal cortando as edificações medievais com algumas poucas vielas transversais, mas tudo de beleza estética de grande valor que "salta aos olhos". Pequenas lojas de produtos típicos, "regalos" para turistas, cafés e restaurantes. Cabe um comentário especial para o hotel reservado (E$70)que tem um atrativo a mais e nos surpreendeu, qual seja quarto de luxo razoável (cama grande, bom colchão, armários, pintura leve, harmonia dos móveis modernos e antigos) que também conta com uma antesala e pequena varanda com mesa e duas cadeiras em ferro fundido de onde se pode sentar para apreciar a belíssima vista de parte da cidade e de todo o lago Trisemano. Aproveitamos para tomar um bom vinho da região enquanto apreciávamos todo o lago Trisemnano com castelos em ilhas e barcos a vela deslizando pela superfície de águas brilhantes. Realmente, a varanda do quarto tem uma vista privilegiada do lago de tirar o fôlego. Uau!!!
No dia seguinte, cumprindo a programação, seguimos rumo a Assisi, 68 km de distancia, sendo que 45 km seriam contornando o lago Trisemano. Começamos as pedaladas numa estrada que mostrou bastante movimento de veículos que motivou preocupação de Iara. Paramos em um posto de gasolina e pedimos informações para alternativa de estrada e o funcionário deste sugeriu uma estrada especial para bicicletas bem próxima ao lago que se mostrou segura e bela com vários postos medievais. E nessa estrada seguimos até a cidade de Passignano quando decidimos pedir informações sobre o transporte em trem que faz o trajeto Siena-Assisi. Essa parada foi decidida durante as pedaladas em razão de alteração das condições metereológicas. O dia tinha amanhecido nublado e a previsão era de vento e queda de temperatura, sendo pequena a probabilidade de chuva, porém durante as pedaladas esta cresceu para tudo: temperatura, frio e chuva. Assim, paramos na estação de trem para pedir informações de horários e rotas e fomos atendidos por um Colombiano que já não falava mais o espanhol, mas muito gentil em prestar informações. Esse “colombiano-italiano” nos recomendou a pegar o próximo trem até Assisi, pois a previsão seria de mais frio e chuva à tarde. Enfim, depois de 20 km de pedaladas, lamentando parar as pedaladas, pegamos o trem até Assisi (E$3,5 por pessoa, E$1,50 por bicicleta). Depois de uma (1) hora chegamos em Assisi e pedalamos até mais um monte onde está localizada a cidade medieval de Assisi. E chegamos a tempo de tirar fotos no local onde está a tumba de São Francisco e minutos depois uma forte e copiosa chuva caiu. O frio e vento aumentaram e permanecemos nesse local por quase 2 horas até a chuva parar e o sol ensaiar alguns raios. Visitamos outros locais em Assisi, cancelamos a reserva de hotel no centro histórico da cidade e pedalamos rumo a estação de trem para retornar a Siena.
A viagem em trem para Siena não é direta, pois são necessárias três baldeações. E um detalhe quase cômico ocorre nessas baldeações, pois na segunda e última troca de trem esperamos no "binário 2" (plataforma, em italiano) o trem para Siena encostar, porém apenas uma "carroça" (vagão, em italiano) apareceu meia hora antes e encostou no "binário 2". Esperávamos por um trem composto de várias "carroças", mas não apenas uma e, ainda assim não movida a diesel, pois o normal seria um trem movido a eletricidade. Enfim, cinco minutos antes da saída dessa "carroça a diesel" descobrimos que essa única "carroça" estranha seria o nosso trem para Siena. Corremos para instalar as "bici", mas o local para estas era muito estreito e o condutor vendo nossa dificuldade prontamente se manifestou para liberar um espaçoso local de instalação das "bici" à frente da carroça, na área de condução, em surpreendente demonstração de gentileza. E gentileza novamente confirmada quando nossos bilhetes foram controlados com a corroça em movimento e se constatou que estes não estavam "validados" como seria o correto realizar. O condutor simplesmente ignorou a norma que exige aplicação de multa (10%) e fez a validação dos nossos bilhetes numa estação de "fermata" (parada) à frente. A viagem até Siena nesse trecho demorou 80 minutos, totalizando quatro (4) horas o trecho Assisi-Siena. Chegamos em Siena às 21H30´ e contatamos o hotel, que deixa de fazer "check in" às 22H00, por celular, para nos aguardar, pois ainda precisaríamos pedalar 20 minutos até chegar a este local. O gerente do hotel indicou a melhor rota para fazermos "in bici" e nos tranquilizou informando que nos aguardaria. Novamente, surpresa pela gentileza. Aliás, caberia comentar que, de maneira geral, unanime, encontramos sempre atitudes gentis com todos os italianos que mantivemos contato, seja nas cidades maiores ou menores, sendo isto distinto da impressão que tivemos em nossa última viagem (2007) à Itália.
E no dia seguinte, sábado, pedalamos os 27 km até Colle Val D´Elsa, com parada mágica, num dia brilhante, um pouco frio (16 ºC), no Castelo Montereggioni para comer um gostoso lanche de “porcheta” (pernil) e beber o vinho local. Um belo castelo medieval onde encontramos pessoas festivas, tocando e dançando na área central do castelo. "Volare, cantare, nel blu dipinto de blu..." e assim, cantando esta bela música cruzamos com um italiano à saída do castelo que acrescentou os versos..."felice de stare lassù"...la, la, la, assobiando, cantando, seguimos embora.
Nossa viagem chega ao fim totalizando quase 180 km de pedaladas reduzida em 45 km dos 225 km previstos devido ao vento, queda brusca de temperatura (30 para 14 ºC) e chuva no último dia de pedaladas. Concluímos essa bela e generosa aventura plena de prazeres, sem incidentes, sequer um pneu furado e com o ego inflado pelo projeto desenhado e precisamente realizado.
Devolvemos as bicicletas e retornamos para visitar novamente Siena, esta cidade que tanto nos encantou pela beleza medieval. Em seguida, colocamos no GPS do carro a cidade de Pisa, selecionamos “estradas sem pedágios” e rodamos quase 600 km pela Toscana em belíssimas estradas vicinais, visitando cidades como Pisa, Volterra, Lucca, Massa-Carrara, Viarregio e La Spezia, sendo estas duas ultimas cidades praianas. Lucca e Pisa são duas cidades também de "tirar o folego" de tanta beleza.
Uma bela aventura de imagens difíceis de se descolar da retina e memória que não hesitaríamos realizar novamente, pois as belas obras nessa região confirmam a história da evolução humana e causam espanto onde tudo há sempre para apreender, aprender e se deleitar.
Quem se interessar por mais detalhes para fazer essa viagem basta me enviar um email que terei satisfação em prestar informações adicionais.
Toscana é o berço do renascimento, luz iluminando um presente medieval que durou mil anos. A região ainda guarda vestígios da civilização etrusca, renovação romana com Carlos Magno e, posteriormente, a explosão de luz na cultura, em geral, na toscana ocorre a partir dos séculos XXII com máxima intensidade nos séculos XV e XVI durante o consulado dos Médicis. A terra Toscana foi palco de um dos períodos mais luminosos e criativos da história da humanidade que estão registrados na pintura, escritos, escultura e arquitetura.
Como bem observado por “Engels”, “em momentos de crise a humanidade produz gênios”, o Renascimento produziu Dante Alighieri – “A Divina Comedia” – Nicolau Maquiavel – “O Príncipe”, “A Mandrágora” – Giovanni Boccacio – “O Decameron” – Ariosto – “Orlando Furioso” – Miguel de Cervantes – “D. Quixote de La Mancha” – Luís de Camões – “Os Lusíadas – William Shakespeare – “Romeu e Julieta”, “Júlio César”, “Hamlet”, “Otelo”. O Renascimento, sem dúvida precisava de gênios e ainda gerou Erasmo de Roterdã – “O Elogio da Loucura” – Etienne de La Boetie – “Discurso da Servidão Voluntária” – Thomas Morus – “Utopia”, entre pintores e escultores como Rafael, Giotto, Miguelangelo, Murilo, El Greco, e o gênio universal Leonardo da Vinci sendo principal estrela desta constelação. A frase de William Shakespeare em Hamlet exprime o “novo homem” (antroprocentrismo em oposição ao teocentrismo presente por um milênio na Europa Ocidental) que surgia com o Renascimento: “Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio; tão vário na capacidade; em forma e movimento, tão preciso e admirável, na ação é como um anjo; no entendimento é como um Deus; a beleza do mundo, o exemplo dos animais”.
Enfim, vamos ao que interessa que seria relatar essa viagem “in bici” (em bicicleta, italiano). O interesse na viagem foi harmonizar a história de região registrada em monumentos, “fortezzas”, igrejas, casas, ruas, museus, paisagens deslumbrantes e brilhantes com o prazer das pedaladas “in bici”. O primeiro passo foi selecionar a região da Toscana onde esse passeio seria realizado. O elemento importante na seleção da rota para as pedaladas foi o vinho. A região de Siena é conhecida pela produção dos vinhos Chiant, Brunello de Montalcino, Rosso de Montalcino e com esta informação se traçou o roteiro: Siena, Montalcino, Montepulciano. Arezzo, cidade Toscana, entraria nesse roteiro, porém o interesse em conhecer a cidade medieval de Assisi influenciou o roteiro que terminou com a inclusão da cidade “Castiglione Del Lago” localizada no lago Trasimeno que fechou o rotero dessas pedaladas. Uma vez concluído o roteiro se realizou uma busca na internet para localizar uma loja onde alugar as bicicletas. A empresa “Gippo”, localizada na cidade “Colle Val D´Elsa”, a 27 km de Siena, foi selecionada para o aluguel das duas bicicletas contemplando: “kit reparo, duas câmeras, “cascos” (capacetes), bolsas dianteiras e traseiras, farol dianteiro e lanterna traseira e seguro contra roubo e acidentes. Os hotéis das cidades desse roteiro foram reservados dois dias antes quando estava na Itália, Milano, Baggio, e o valor das diárias foram de E$50 a E$75, com farto café da manhã composto de sucos, cereais (3), iogurtes, café, chá, frutas, pães, queijo, presunto, etc...
E assim, no dia 03 de outubro de 2011, pegamos um carro na cidade de Milano, Lombardia, norte da Itália, e rodamos 280 km, passando por Firenze, capital da Toscana, até a cidade da loja Gippo. Chegamos na loja Gippo, em torno de 14H30´ que estava fechada para o almoço entre 12H30´e 15H30´ e, enquanto aguardávamos a abertura da loja, aproveitamos para fazer também o nosso almoço estendendo um pano no gramado do estacionamento da loja onde abrimos uma garrafa de vinho “Sardo” e comemos nossos lanches à base de salmão defumado, queijo e salada. Na Gippo fomos gentilmente atendidos por Adriano e Laura que selecionaram e prepararam as duas bicicletas conforme nossos interesses: bom cambio, 21 velocidades (queríamos 27, mas não disponível), suportes para alforjes, cestas dianteiras e traseiras, etc...O valor do aluguel de cada bicicleta é de E$80 por semana. A loja Gippo vende e aluga bicicletas e toda sorte de acessórios, porém os preços não são nada atrativos. Portanto, dessa loja ficamos apenas com as garrafas de água e duas campainhas metálicas.
Enquanto Gippo preparava as bicicletas – revisão completa – e adaptação de acessórios, preparamos o carro para permanecer uma semana estacionado nesta loja. Uma vez prontas as bicicletas fizemos fotos no local e começamos a nossa aventura pegando a estrada rumo a Siena. A Gippo está localizada numa estrada vicinal da cidade Colle Val D´Elsa e logo depois da partida encontramos a primeira “rotonda” (em italiano, ou “rotunda”, em português de Portugal, ou rotatória para o português do Brasil) rumo a Siena com uma profusão de placas indicativas, mas uma delas localizada acima de todas despertou a nossa atenção e estaria sempre presente em todas as placas de importantes cruzamentos, ou “rotundas”, qual seja: “Tutte le Direzioni” (todas as direções). A direção principal que norteia todos os sentidos é Roma, daí talvez também a famosa expressão “todos os caminhos levam a Roma”.
Alcançamos Siena em torno de 19H00 e rapidamente chegamos no hotel localizado logo à entrada desta cidade e numa via que leva diretamente a uma das denominadas “porta” de acesso a Siena medieval. Uma vez instalados, bicicletas guardadas e banho tomado, saímos rumo ao Centro de Siena pela porta “Camolia” e curtir as labirínticas vias até a “Piazza” central onde todos se concentram para se deleitar em estado de quase incredibilidade com a bela vista das ousadas e criativas construções medievais dispostas em círculo. O impacto da beleza da cidade inebriou nossa mente que esquecemos a hora e perdemos o senso de direção, pois no retorno ao hotel pegamos uma direção que nos levou a porta chamada “Romana” que está localizada no sul enquanto deveríamos ter caminhado rumo ao norte da cidade. No dia seguinte, acordamos cedo, tomamos um substancioso café da manhã e pedalamos na direção da porta “Camolia” e depois “Romana”, tangenciando os muros medievais rumo a cidade de Montalcino.
A distancia de 45 km rumo a Montalcino foi percorrida em, aproximadamente, quatro (4) horas e meia, mas poderia ter sido percorrida em menos tempo não fosse o encantamento que a estrada mostrava a cada kilometro percorrido que exigia o registro pela câmera fotográfica. Sem contar a insegurança em relação ao rumo correto necessitar de confirmação com os habitantes locais a cada pequeno lugarejo alcançado. E os habitantes locais, para a nossa surpresa, se mostraram atenciosos, gentis, proativos, em prestar a correta informação que nessa rota para Montalcino se mostrou fácil confirmando o que todos diziam “siempre dreito”(sempre reto). Chamou nossa atenção a aproximação com Montalcino que faz uma grande curva em subida de quase 8 km com pequenas rampas e curvas e a cada curva a ilusão de ótica sugeria que a subida acabaria e começaria um plano, ou mesmo leve descida, mas isto nunca ocorria até se alcançar a cidade localizada a quase 700 m de altura. Quando chegamos na entrada da cidade, área não medieval, ainda não o topo do monte, encontramos um posto de gasolina e fizemos uma exceção para uma coca-cola. Ao entrar na área de café vimos as bandeiras do Brasil e Itália suspensas, grandes, lado a lado e isto nos intrigou para procurar o gerente e indagar o por que disto. Qual a nossa surpresa em saber que o dono é italiano nato de Montalcino, mas há cinco anos adotou o Brasil a tal ponto de comprar uma casa na ilha de Itaparica, Bahia, para morar a partir de novembro de 2011. A conversa rolou fácil e quando partimos de Montalcino fomos apresentados à esposa, tomamos café, fizemos fotos e fomos oficialmente convidados para visitá-los em Itaparica, Ba.
Em Montalcino nos hospedamos no hotel localizado em frente à principal atração medieval que é a “Fortezza de Montalcino”. O hotel também está ao lado de loja de vinho onde se serve para degustação o famoso “Brunello de Montalcino”. Mas seguindo os conselhos de meu co-cunhado italiano, Milano, pedimos sempre “vinho da casa” nos restaurantes ao invés de “Brunello”, pois na Itália se beberia mais Montaltino do que se produz e no “vinho da casa” em Montalcino a probabilidade de se beber o verdadeiro Brunello é muito grande. Para a nossa decepção essa observação de cunhado se mostrou verdadeira, confirmando o “vinho da casa” com melhor sabor que o Brunello oferecido para degustação.
A cidade de Montalcino é pequena com as construções medievais no topo e uma vista privilegiada dos campos toscanos. Algumas vielas estreitas em desníveis acentuados são percorridas se apoiando em corrimões de aço e nos iludem quanto ao desgaste físico talvez por conta do prazer das belas visões dos campos toscanos e das estéticas arrojadas das construções com beleza até em pequenos detalhes como uma maçaneta de porta, um vidro desenhado, uma escultura escapando das paredes, ou um piso desenhado. A máquina fotográfica não conseguiria captar toda a beleza dessa insólita cidade que tanta riqueza produziu há 500 anos atrás.
Depois de Montalcino a próxima cidade do nosso roteiro seria Montepulciano e, como não seria diferente também com o nome sugerindo localização num “monte”. Assim, pela manhã bem cedo nos preparamos com bastante protetor solar e começamos as pedaladas de 40 km rumo a Montepulciano em um dia brilhante com uma pintura de montes, planos, lavouras de uvas, peras, maças, milho e feno de cores entre o verde e amarelo que torna irresistível a comparação destas imagens a um quadro do pintor Van Gogh. Ao longo da estrada parávamos para fazer fotos dos belos locais de produção de vinho abertos aos visitantes para degustação, além de vários locais para alugar (pelo menos 1 semana) chamados de “agriturismo”. Não tinhamos pressa em alcançar Montepulciano, pois a visão que a estrada proporciona é de beleza intensa que invariavelmente despertava a vontade de pedalar cantando. Uma sensação de liberdade e beleza de alivio para a alma toma conta enquanto as pedaladas se desenvolvem.
Caberia importante comentário sobre as pedaladas nessas estradas vicinais toscanas de forte emoção para aspectos relativo a segurança, senso lato. Em nenhum momento nos ocorreu durante a preparação desse projeto a possibilidade de um assalto seja das bicicletas, de valores e, ou, objetos eletrônicos que carregamos. Exigimos seguro da loja de aluguel de bicicletas para o caso de acidentes, ou roubo destas. Surpreendeu-nos pedalar numa estrada vicinal onde os veículos – automóveis e caminhões – respeitam a bicicleta e não hesitam em quase parar para ultrapassar uma bicicleta. E ultrapassar sempre respeitando a distancia mínima de 1,5 m de distancia da bicicleta. Ainda assim procuramos pedalar sempre junto da faixa branca pintada no lado direito da pista da rodovia que não tem acostamento, porém vimos vários ciclistas pedalando no meio da faixa direita sem quaisquer preocupações com carros. Em determinado momento, quando minha consorte pedalava à minha frente (100 m) passou por mim três carros em velocidade superior ao permitido nessas estradas (oscila de 50 a 70 km, dependendo do local) que precisaram parar juntos e ultrapassar esta que pedalava tranquilamente no meio da rodovia. Todos pararam e não protestaram com buzina. Claro que ocorrem acidentes e, geralmente, segundo informaram alguns ciclistas, isto estaria associado a direção+alcool, ou estrangeiros, principalmente do leste europeu que desconhecem normas de respeito a ciclistas e pedestres, ou pouca disposição em atender estas, além do abuso do alcool. Portanto, pedalar sempre atento com as normas de segurança e de olho nos carros à frente e atrás.
Montepulciano, mais uma profusão de construções medievais em monte com vista privilegiada dos campos toscanos. O hotel reservado no centro histórico da cidade está em prédio medieval adaptado com quarto confortável, bom banheiro com ducha, ar condicionado e uma bela e grande estampa de quadro do pintor Gustav Klint à cabeceira. Aproveitamos Montepulciano ao máximo explorando todos os cantos possíveis dessa bela cidade. Não seria diferente e experimentamos o vinho dessa cidade, porém desta vez compramos uma garrafa em um pequeno supermercado localizado em área fora dos muros medievais. À noite retornamos à praça central para tomar vinho e comer queijos e pães com os reflexos de luz de uma bela lua.
No dia seguinte, depois de um generoso café da manhã em agradável e arrojada arquitetura do local, seguimos rumo a Castiglione Del Lago, situada a 45 km desta cidade. Novamente fomos presenteados por um sol intenso que fez brotar toda a beleza da paisagem rumo a fronteira da Toscana, pois a cidade de Castiglione Del Lago e Assisi estão na região da Umbria. Repetiu-se tudo novamente, ou seja, a estrada com subidas e descidas não intensas, planos, e as diversidades agrícolas típicas da toscana. Nessa pedalada ficamos tão encantados com as belas visões da estrada que paramos para um piquenique e tomamos um bom vinho Montepulciano com queijo pecorino, pão e salada. Uau, que delícia!
Em Castiglione Del Lago tínhamos reserva de hotel localizado no centro histórico da cidade que também está em um monte. E pedalamos até o topo do monte para alcançar o hotel com repetição das emoções para a visão do campo agora da Umbria acrescido de um imenso lago chamado Trisemano. Nessa subida encontramos um grupo de ciclistas da Áustria que nos cumprimentaram na subida até o centro histórico e quando alcançamos o local trocamos informações de nossas viagens em inglês. Assim como nós, os austríacos estavam encantados com as pedaladas na Toscana.
Castiglione Del Lago tem a sua “fortezza” que estava fechado para visitação e conta com apenas uma rua principal cortando as edificações medievais com algumas poucas vielas transversais, mas tudo de beleza estética de grande valor que "salta aos olhos". Pequenas lojas de produtos típicos, "regalos" para turistas, cafés e restaurantes. Cabe um comentário especial para o hotel reservado (E$70)que tem um atrativo a mais e nos surpreendeu, qual seja quarto de luxo razoável (cama grande, bom colchão, armários, pintura leve, harmonia dos móveis modernos e antigos) que também conta com uma antesala e pequena varanda com mesa e duas cadeiras em ferro fundido de onde se pode sentar para apreciar a belíssima vista de parte da cidade e de todo o lago Trisemano. Aproveitamos para tomar um bom vinho da região enquanto apreciávamos todo o lago Trisemnano com castelos em ilhas e barcos a vela deslizando pela superfície de águas brilhantes. Realmente, a varanda do quarto tem uma vista privilegiada do lago de tirar o fôlego. Uau!!!
No dia seguinte, cumprindo a programação, seguimos rumo a Assisi, 68 km de distancia, sendo que 45 km seriam contornando o lago Trisemano. Começamos as pedaladas numa estrada que mostrou bastante movimento de veículos que motivou preocupação de Iara. Paramos em um posto de gasolina e pedimos informações para alternativa de estrada e o funcionário deste sugeriu uma estrada especial para bicicletas bem próxima ao lago que se mostrou segura e bela com vários postos medievais. E nessa estrada seguimos até a cidade de Passignano quando decidimos pedir informações sobre o transporte em trem que faz o trajeto Siena-Assisi. Essa parada foi decidida durante as pedaladas em razão de alteração das condições metereológicas. O dia tinha amanhecido nublado e a previsão era de vento e queda de temperatura, sendo pequena a probabilidade de chuva, porém durante as pedaladas esta cresceu para tudo: temperatura, frio e chuva. Assim, paramos na estação de trem para pedir informações de horários e rotas e fomos atendidos por um Colombiano que já não falava mais o espanhol, mas muito gentil em prestar informações. Esse “colombiano-italiano” nos recomendou a pegar o próximo trem até Assisi, pois a previsão seria de mais frio e chuva à tarde. Enfim, depois de 20 km de pedaladas, lamentando parar as pedaladas, pegamos o trem até Assisi (E$3,5 por pessoa, E$1,50 por bicicleta). Depois de uma (1) hora chegamos em Assisi e pedalamos até mais um monte onde está localizada a cidade medieval de Assisi. E chegamos a tempo de tirar fotos no local onde está a tumba de São Francisco e minutos depois uma forte e copiosa chuva caiu. O frio e vento aumentaram e permanecemos nesse local por quase 2 horas até a chuva parar e o sol ensaiar alguns raios. Visitamos outros locais em Assisi, cancelamos a reserva de hotel no centro histórico da cidade e pedalamos rumo a estação de trem para retornar a Siena.
A viagem em trem para Siena não é direta, pois são necessárias três baldeações. E um detalhe quase cômico ocorre nessas baldeações, pois na segunda e última troca de trem esperamos no "binário 2" (plataforma, em italiano) o trem para Siena encostar, porém apenas uma "carroça" (vagão, em italiano) apareceu meia hora antes e encostou no "binário 2". Esperávamos por um trem composto de várias "carroças", mas não apenas uma e, ainda assim não movida a diesel, pois o normal seria um trem movido a eletricidade. Enfim, cinco minutos antes da saída dessa "carroça a diesel" descobrimos que essa única "carroça" estranha seria o nosso trem para Siena. Corremos para instalar as "bici", mas o local para estas era muito estreito e o condutor vendo nossa dificuldade prontamente se manifestou para liberar um espaçoso local de instalação das "bici" à frente da carroça, na área de condução, em surpreendente demonstração de gentileza. E gentileza novamente confirmada quando nossos bilhetes foram controlados com a corroça em movimento e se constatou que estes não estavam "validados" como seria o correto realizar. O condutor simplesmente ignorou a norma que exige aplicação de multa (10%) e fez a validação dos nossos bilhetes numa estação de "fermata" (parada) à frente. A viagem até Siena nesse trecho demorou 80 minutos, totalizando quatro (4) horas o trecho Assisi-Siena. Chegamos em Siena às 21H30´ e contatamos o hotel, que deixa de fazer "check in" às 22H00, por celular, para nos aguardar, pois ainda precisaríamos pedalar 20 minutos até chegar a este local. O gerente do hotel indicou a melhor rota para fazermos "in bici" e nos tranquilizou informando que nos aguardaria. Novamente, surpresa pela gentileza. Aliás, caberia comentar que, de maneira geral, unanime, encontramos sempre atitudes gentis com todos os italianos que mantivemos contato, seja nas cidades maiores ou menores, sendo isto distinto da impressão que tivemos em nossa última viagem (2007) à Itália.
E no dia seguinte, sábado, pedalamos os 27 km até Colle Val D´Elsa, com parada mágica, num dia brilhante, um pouco frio (16 ºC), no Castelo Montereggioni para comer um gostoso lanche de “porcheta” (pernil) e beber o vinho local. Um belo castelo medieval onde encontramos pessoas festivas, tocando e dançando na área central do castelo. "Volare, cantare, nel blu dipinto de blu..." e assim, cantando esta bela música cruzamos com um italiano à saída do castelo que acrescentou os versos..."felice de stare lassù"...la, la, la, assobiando, cantando, seguimos embora.
Nossa viagem chega ao fim totalizando quase 180 km de pedaladas reduzida em 45 km dos 225 km previstos devido ao vento, queda brusca de temperatura (30 para 14 ºC) e chuva no último dia de pedaladas. Concluímos essa bela e generosa aventura plena de prazeres, sem incidentes, sequer um pneu furado e com o ego inflado pelo projeto desenhado e precisamente realizado.
Devolvemos as bicicletas e retornamos para visitar novamente Siena, esta cidade que tanto nos encantou pela beleza medieval. Em seguida, colocamos no GPS do carro a cidade de Pisa, selecionamos “estradas sem pedágios” e rodamos quase 600 km pela Toscana em belíssimas estradas vicinais, visitando cidades como Pisa, Volterra, Lucca, Massa-Carrara, Viarregio e La Spezia, sendo estas duas ultimas cidades praianas. Lucca e Pisa são duas cidades também de "tirar o folego" de tanta beleza.
Uma bela aventura de imagens difíceis de se descolar da retina e memória que não hesitaríamos realizar novamente, pois as belas obras nessa região confirmam a história da evolução humana e causam espanto onde tudo há sempre para apreender, aprender e se deleitar.
Quem se interessar por mais detalhes para fazer essa viagem basta me enviar um email que terei satisfação em prestar informações adicionais.
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