Nas asas da Panair

A Comissão da Verdade começa a jogar luz para alguns eventos antes apenas ventilados, mas nunca demonstrados. Nessa quinta, 21 março, documentos examinados de 1965 confirmam que a empresa de aviação "Panair" gozava de boa saúde financeira até três meses antes de ter a licença para voar nos céus do Brasil cancelada pela Junta Militar do golpe de Estado de 1964.  Tenho especial carinho por essa companhia porque associo com boas lembranças de infância vivida em fazenda na cidade de Dracena,SP. O  aeroporto com o nome de meu avô João Vendramim tinha pista curta e de terra batida. Levantar voo era um momento quase mágico, pois o avião de dupla hélice, cores prata e branco, se dirigia à cabeceira da pista para iniciar um ritual de aquecimento de motores até a máxima rotação. O avião parado à cabeceira, próximo de estrada da fazenda, produzia um som e nuvem de poeira crescentes e todos que estavam no local precisavam se proteger. Quando nuvem e som máximos o avião começava a se movimentar para percorrer a curta pista e alçar voo. Um espetáculo até hoje mantido pelas minhas retinas, assim como a cena de família embarcando num voo para São Paulo (650 km de distância).
A "Panair" recebeu um duro golpe em 1965 para deixar os aviões no chão porque os proprietários da empresa apoiavam o ex-presidente Juscelino Kubischek e isto não era aceito pelos milicos que tomaram o poder a força e não queriam correr o risco deste candidato a presidente nas eleições que, a priori, deveriam ocorrer na sequência. Parece que o resultado disso também foi o decreto AI-2 (ato inconstitucional Nº2) suspendendo as eleições gerais.  Mais uma vergonha que se soma às tantas barbaridades produzidas pela Junta de Milicos que tentaram em parceria com boa parte das elites econômicas e parte da classe média assustada tornar o Brasil um grande quartel.  Comunismo, cruz credo, tudo vale para afastar esse diabo.
A Comissão da Verdade também começa a jogar luz e produzir documentos para os assassinatos produzidos em nome e pelo Estado Militar, tais como novos atestados de óbito para Manoel Filho, Alexandre Vanuchi e Vladimir Herzog.  Os milicos até hoje, vergonhosamente, relutam em aceitar as barbaridades que produziram e realizar um "mea culpa" público, covardemente escondidos na Leia da Anistia e no frágil argumento de que a luta (desigual e covarde) foi para impedir a instalação de uma república comunista no Brasil. Se Brasil tivesse um Poder Judiciário intrépido, corajoso, e comprometido com a Constituição esses "milicos" e todos aqueles que apoiaram o "tempos de chumbo" estariam devidamente "enquadrados".
Bom trabalho à Comissão da Verdade.  A história recente do Brasil precisa ser passada a limpo!

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